Aí começamos nosso passeio. A Graça e a Vitória tomadas discretamente por uns flocos que me disseram depois serem "paina", e que eu viria a descobrir serem mais do que um nome. Continuamos em direção ao Campo Grande. Elas, sem uma corrente que lhes guie, pousam em canteiros, nas sarjetas, na tela que proteje a varanda do Edifício Maiza, chegam ao cabelo de um senhor na Barra e sabe lá Deus o que mais alcançam.
A essa altura já vemos a nuvem de flocos no começo do Corredor da Vitória, só faltando mais uns passos para descobrir a enorme paineira na extremidade da praça. O vento solta os flocos dos galhos como Edward podava-libertava as árvores daquele loteamento tão sem vida. Um pouco de experiência real em nosso mundo fake. Um pequeno êxtase.
Grande parte do deslumbre vem do meu hábito de seguir - mas de modo bem displicente - essas pequenas correntes de água na rua para descobrir que são uma obra do metrô, ou um mero cano estourado, ou até mesmo a garagem de casa que acabou de ser lavada. Mas nesse sábado achei a tal árvore, e a metáfora pode até ser batida, mas essa está em período de floração... e se espalhando pela cidade feito meu hálito suspirado e minhas palavras sussuradas.
A digressão toda é porque hoje me dei conta que chegar até ela foi caminhar ao meu encontro. Daí eu achar que fui muito feliz nesta última imagem-síntese: estou em algum ponto do trajeto com meu All Star preferido, suspirei uma paina-Wally em algum lugar da calçada e me conformo, nesse começo de novembro, com apenas um pé do par.