quarta-feira, 31 de outubro de 2007

um pé do par

Eu e Elaine saindo de um almoço numa cumplicidade que já me fazia falta - por falta mesmo de oportunidade, nada mais. Eu estava confuso: precisei que ela me convencesse daquilo que eu queria (!).

Aí começamos nosso passeio. A Graça e a Vitória tomadas discretamente por uns flocos que me disseram depois serem "paina", e que eu viria a descobrir serem mais do que um nome. Continuamos em direção ao Campo Grande. Elas, sem uma corrente que lhes guie, pousam em canteiros, nas sarjetas, na tela que proteje a varanda do Edifício Maiza, chegam ao cabelo de um senhor na Barra e sabe lá Deus o que mais alcançam.

A essa altura já vemos a nuvem de flocos no começo do Corredor da Vitória, só faltando mais uns passos para descobrir a enorme paineira na extremidade da praça. O vento solta os flocos dos galhos como Edward podava-libertava as árvores daquele loteamento tão sem vida. Um pouco de experiência real em nosso mundo fake. Um pequeno êxtase.

Grande parte do deslumbre vem do meu hábito de seguir - mas de modo bem displicente - essas pequenas correntes de água na rua para descobrir que são uma obra do metrô, ou um mero cano estourado, ou até mesmo a garagem de casa que acabou de ser lavada. Mas nesse sábado achei a tal árvore, e a metáfora pode até ser batida, mas essa está em período de floração... e se espalhando pela cidade feito meu hálito suspirado e minhas palavras sussuradas.

A digressão toda é porque hoje me dei conta que chegar até ela foi caminhar ao meu encontro. Daí eu achar que fui muito feliz nesta última imagem-síntese: estou em algum ponto do trajeto com meu All Star preferido, suspirei uma paina-Wally em algum lugar da calçada e me conformo, nesse começo de novembro, com apenas um pé do par.

4 comentários:

Anônimo disse...

Primo, seus textos são excelentes. Você escreve legal pra caramba.

Abração!

Juliano disse...

Leo & the emotional landscapes.

As ondas v�o de dentro pra fora pra dentro pra fora... Acho que � o nosso modesto meio de alguma inte(g)ra�o com o universo.

Brício Salim disse...

Tenho pensado muito sobre a visão ultimamente. É como diz o Saramago, "a responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam".
"Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara".
Quando estiver pelo Campo Grande-Vitória-Graça-Barra, prestarei mais atenção nas paineiras.
Abço.>>>

Alice disse...

Eita. Esse tive que ler com calma. Acho que meu lado racional não entendeu tudo, mas meu lado emocional gostou. =)

Beijocas flutuantes carregadas pelo vento. Pega! Pega!

PS: "Mundo fake" é o nome da primeira música de CH. (Aqueeeeele CD que gravei pra vc e vc ainda não ouviu, hohoho)