sexta-feira, 18 de abril de 2008

no ônibus (2)

"we won't stop until someb"
"alguém vai descobrir que peguei aquele dinheiro do caixa?"
"af, que ônibus cheio!"
- tá cheio demais, né?
"que lindos ojitos que"
- disse que não ia me pagar o meu
- bora descendo aí, pessoal? a câmera tá filmando vocês aí!
"remember that i love you"
- nhora sabe onde é a Clínica São Bern
"como é que eu vou passar pelo povo nessa situação, agora?"
"que lindas e blanquitas que Dios me dio"
"deu positivo"
- na frente tá vazio. Bora, ge
- acho que já passou
"se algum cara encrencar comigo?"
"será um exame de sangue?"
- oxe, fosse eu botava logo era na
- nothing ever happened

quinta-feira, 17 de abril de 2008

cinema | quem você quer ser quando acordar de manhã?


Ou sobre a difícil arte de se reinventar quando já não somos o suficiente, em Ghost World (Terry Zwigoff, 1999).

Enid (Thora Birch) e Rebecca (Scarlett Johanssen) acabaram de completar o high school e - diferente de todos os seus coleguinhas preocupados com a faculdade ou atividades extra nas férias - querem dividir apartamento, arranjar um trabalho, enfim: começar uma vida independente e fugir da seqüência óbvia escola-universidade-trabalho.

Ninguém se deixe levar pela aparente temática da adolescência no filme, senão considerada como um estado de eterno descobrir-se e reinventar-se. E - outro ponto importante - também não se trata de um filme sobre a amizade entre as meninas, ele chega mesmo a mostrar como elas vão se afastando um pouco.

A trama é centrada em Enid, nas suas transformações ao longo dessa história e nos problemas que vai causando a ela mesma e aos outros. Rebecca a complementa por ser mais ajustada ao mundo normal (arranja e mantém empregos com mais facilidade), mesmo sendo tão ácida quanto a amiga em seus comentários.

O que a meu ver permea todo o filme (não só com relação a Enid, mas a outros personagens e situações) e usei como chave de leitura são as possíveis respostas para o questionamento: quando já não somos mais o suficiente, que artifícios usamos pra cobrir a camada anterior? Inventar e escamotear histórias, incoporar discursos de outra geração, criar fascinação por um tempo não vivido... todas formas de escape para a dificuldade - senão a impossibilidade - de enfrentar e pensar o presente.

Daí termos no filme o original restaurante dos anos 50 recém-inaugurado nos anos 90 (!), o anúncio politicamente incorreto (pelo potencial racista) que é trocado e rapidamente apagado da memória coletiva, a cultura punk esvaziada, o fascínio por coleções de peças antigas, a muito apropriada cena de "Gumnaam" na abertura, e mais outras tantas coisas postas em cena.

Uma série de detalhes nos cenários e locações fazem referência às décadas entre 1930-50, lembrando o universo dos chamados "filmes de nostalgia" (ave, Jameson! este post é seu devedor eterno). Claro que nas mãos de Zwigoff tudo vem cheio de sarcasmo, tendo como momento máximo o espanto de Enid e Rebecca ao entrarem no autêntico restaurante anos 50, onde um rap anos 90 é a música ambiente e são atendidas por um garçom com seu penteado anos 80.

Há pelo menos três "versões" de Enid no filme: a primeira vem na mencionada abertura do filme, com a personagem acompanhando a dança do filme indiano - que é muito mais um pastiche de todas as cenas de baile de formatura que já vimos misturados a um climão James Bond (note-se que Enid está vestida com a beca do seu baile). O visual punk "original de 1977" é a segunda e dura muito pouco, dando lugar ao momento que dura a maior parte da película: a Enid envolvida com o blues dos anos 20-30. E envolvida com Seymor (Steve Buscemi) um colecionador de raridades que vão de LPs de blues em 78 r.p.m. a pôsteres de Pulp Art.

As mudanças constantes não chegam a resolver seu desconforto: ela continua completamente perdida sobre como levar as coisas adiante. Nada com que (ou quem) se envolva parece lhe dar rumo. Em certo ponto ela conversa com Seymor sobre uma idéia fixa sua: a de largar tudo de um dia pro outro, abandonando a cidade sem deixar rastros. A partir daí caminha-se pro desfecho do filme (é também quando ele vai perdendo fôlego).

A porta de saída da cidade é um ponto de ônibus cuja linha foi desativada. É impossível saber onde se passa a história a partir do filme - pode ser qualquer cidadezinha de interior dos Estados Unidos ou mesmo Los Angeles, onde a maior parte do filme foi rodada. Note-se que no banco deste ponto lê-se numa colagem "Life" e "Not in service".

É nele onde Enid encontra Norman, um senhor que não se cansa de aguardar o tal ônibus-Godot. Entre zombar, aproximar-se e pôr-se no lugar dele, Enid aprende a esperar.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

lá no centro

dia de vistoria no centro antigo da cidade. começo me desviando de cocô de cachorro, depois "cuidado que o pessoal usa isso aqui como sanitário público!". um embrulho. "tudo tão parecido, né?" essa última fui eu, pensando. outro.

sábado, 5 de abril de 2008

Chinaski, Bukowski...

Começo a ler "Misto-quente", de Charles Bukowski, e aceito de bom grado a advertência de Pedro Gonzaga - tradutor e escritor do prefácio.

Muito boa a sugestão de seguir pelo caminho - para mim - menos usual. Sendo assim, eu vou admitindo a importância de não identificar no personagem Henry Chinaski o reflexo do seu autor, bem como de não me identificar com o universo de figuras um tanto desajustadas, alijadas do grupo dos normais. Fico interessado pela possibilidade de fruir mais da obra se não levasse em conta as referências (auto)biográficas.

Mas a tentativa - puta que pariu - não durou mais que um prefácio. Quando chego no final dele o tradutor me deixa com uma citação do livro: "Que tempos penosos foram aqueles anos - ter o desejo e a necessidade de viver, mas não a habilidade" - o que me leva direto pr'uma anotação que fiz tem uns dois anos e meio...

Aí, fudeu!